sexta-feira, 15 de abril de 2011

(Antes que haja plágio... aí vai)

Quando o assunto é criança...

Todo início de ano é assim: matrícula na escola, compra material escolar, mudança de colégio, de professora, de amigos, enfim... várias situações novas onde pais, educadores e principalmente as crianças, precisam se adaptar. Tais situações geram na criança, e em todos com os quais ela convive, sentimentos que precisam ser trabalhados para que o convívio não fique prejudicado. Os sentimentos comuns nessas situações são de perda, insegurança quanto ao novo espaço, medo das novas experiências dentre vários outros experimentados pela criança, mas que precisam ser vivenciados, pois fazem parte da vida e irão se repetir constantemente.
Os sentimentos de perda podem ser experimentados através da mudança de um colégio para o outro, ou de uma professora para outra, de colegas que não fazem mais parte do convívio escolar, dentre outros. Muitas vezes as crianças ficam inseguras frente à novas amizades; com medo das novas experiências e ainda assim têm de se adaptar à essa nova realidade. Tal situação e sentimentos exigem dos pais uma atenção especial, pois são muito solicitados pelos filhos, que começam a apresentar comportamentos antes não muito freqüentes: choro, birra, voltam a fazer xixi na cama, a mentir, não querem ir ao colégio, dentre outros.
Esses comportamentos são comuns nessas situações, pois as crianças não têm condições emocionais de conversar com os pais e explicar sobre seus sentimentos de forma clara e madura, e adotam essas atitudes para mostrar que não estão satisfeitas com algo. Digo com freqüência aos pais que oriento: a criança não tem maturidade emocional o suficiente para falar com clareza sobre seus sentimentos, assim como fazem os adultos que têm possibilidade de falar sobre o que estão sentindo.
O melhor a fazer nessas ocasiões é orientar os pais para uma conversar com os educadores e verificar se esses comportamentos dizem respeito à fase de adaptação no colégio, nesse caso, conversar com os filhos explicando a importância de freqüentar o colégio e enfrentar tal situação, mas principalmente ouvir o que a criança tem a dizer.
Uma outra orientação importante quando falamos em desenvolvimento infantil e a importância na adaptação frente às novas situações, é a questão do limite. A criança até certa idade do desenvolvimento, acredita que ela “tudo pode” fazer, não tendo a noção do “não”, porém, é obrigação dos pais introjetar esse conceito no dia-a-dia da criança, fazendo com que ela obedeça aos comandos dos pais. A função em insistir para que a criança respeite os limites, é de dar um direcionamento para a vida dela.
Frequentemente os pais têm dificuldade em se estabelecer e fazer cumprir os limites; isso ocorre por vários motivos: sentimento de culpa por ficar pouco tempo com os filhos (em função da vida agitada do dia-a-dia), por considerar que, insistir para que a criança obedeça aos limites irá “gerar certo trauma de infância” dentre outros, porém, reforço a importância de fazer com que a criança compreenda que o “não” faz parte da vida, afinal de contas, quantas vezes temos que trabalhar com esse “não” na nossa vida adulta?
Por fim, uma outra orientação importante quando o assunto é o desenvolvimento infantil é respeitar a fase de maturidade da criança, ou seja, criança é criança! Embora hoje em dia possamos observar que as crianças estão muito desenvolvidas intelectualmente, devemos entender que “assunto de adulto” não deve ser abordado na presença das crianças; devemos falar com elas de acordo com a condição que ela tem para entender e à partir do seu universo, e principalmente preservar sua condição de criança e as características da infância.
Quando todas essas situações não conseguem ser administradas pelos pais, o ideal é procurar a ajuda de um psicólogo, que é o profissional capacitado para cuidar dos sentimentos e das relações interpessoais. Ao contrário do que pensa o senso comum, o psicólogo não é “coisa para loucos” e está disponível para atuar com crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Carine Naldi Sawtschenko é psicóloga clínica; mestre em Psicologia da Saúde; Professora do Centro Universitário de Barra Mansa (RJ) e psicóloga do Projeto Social São Canísio.
Novo endereço: R. Barão do Rio Branco, 595 centro Aparecida
tel:(12) 3105-4271

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sobre a morte

Nos dias 7,8 e 9 de outubro de 2010, participei do IV Congresso Internacional de Cuidados Paliativos, que foi um sucesso! Palestras de muita competência, vários profissionais capacitados, expondo sobre temas com muita propriedade, muito bem organizado, boa localização... resumindo, muito bom evento. O conceito de cuidados paliativos versa sobre cuidados especiais na cronicidade das doença, na proximidade da morte. Assuntos que ultimamente tem feito pensar (e sentir bastante).
Diante de tema como esse, impossível não se envolver, inclusive no exercício da psicologia, porque não acredito numa imparcialidade total, pois acredito que a vida do outro nos remete à nossa, de uma forma ou de outra; sendo assim, em um evento sobre cuidados paliativos, certamente iremos versar sobre a (minha, nossa) morte.
Em uma das palestras, determinado autor citou uma leitura de Rubem Alves, que com muita propriedade discorre sobre temas existenciais lindamente! As palavras são essas (com licença ao autor): “As velas nos ensinam uma lição: para brilhar é preciso morrer. As velas, á medida que iluminam, vão morrendo. A cera dura fica mole com o calor, derrete-se e escorre, como se fossem lágrimas. E, por fim, a vela se reduz a um toquinho, até que se paga definitivamente. Quem contempla a chama de uma vez queimando fica tranqüilo e sábio...”
Como disse anteriormente, não acredito no exercício da psicologia sem um certo envolvimento daquilo que o outro (cliente) nos apresenta. Embora essa seja uma boa discussão entre as diferentes abordagens psicológicas, com todo cuidado e respeito, digo novamente que não se é possível atender em psicologia sem que algo do cliente “fique em nós”, porque também somos seres humanos, dessa forma, uma certa dose de envolvimento sempre será comum nos atendimentos em psicologia. É claro que um envolvimento sutil que nos permita atender o cliente sem que nossa técnica fique prejudicada. Alguns autores conceituam que esse envolvimento como empatia, acolhimento, transferência, porém, a palavra que considero mais adequada nesse caso é: acolhimento (do outro ser humano).
Nessa dose de envolvimento natural em psicologia, assisti às palestras do congresso com uma dor pulsando em mim: o luto que vivencio em função da morte de minha irmã. Essa mesma situação existencial, tem-me feito prensar muito sobre a morte, assunto tão difícil de se abordar.
Vivemos numa cultura ocidental em que a vida não é muito pensada à partir da morte, ou seja, vivemos a vida sem pensar na morte e tampouco comentar sobre ela, haja vista as mães que não levam seus filhos aos velórios com medo que fiquem “traumatizados”. Nessas circunstâncias eu chego a a perguntar: “Mas por que deveriam ficar traumatizados? As crianças ficam traumatizadas com violência doméstica, agressões... por que ficariam com um trauma em ver alguém deitado e pessoas chorando?” Não que com essa pergunta eu esteja banalizando a morte, pelo contrário, estou mostrando a importância de se enxerga-la como evento mais que natural e presente na vida de todos; se pensarmos dessa forma, talvez possamos entender que, como faz parte da vida, deveremos vive-la com mais naturalidade.
Os nossos antepassados que trabalhavam na lavoura, comentavam sobre a morte como “Aquela Marvada” sem ousar dizer o nome, como se falar “nela” fosse trazê-la para perto; associava alguns bichos e hábitos com mal agouro, e protegiam-se contra essas situações como se isso fossem livrá-los da morte, justamente pela dificuldade em lidar com sua presença (ou seria ausência?).
Sempre que pensamos na morte, a idéia que nos ocorre é da morte que descrevi acima: a morte dos funerais, porém, enquanto pessoas que existimos no mundo, vivenciamos a morte todos os dias, e ouço dizer, quase toda hora, com muita sutileza e disfarçada nas frustrações, angústias e outros sentimentos. Como exemplo bastante claro, são as perdas constantes do nosso dia-a-dia: “perdemos a hora” de levantar, perdemos o condução, perdemos um determinado prazo, morre uma planta, enfim, essas pequenas e modestas perdas sugerem um processo de luto porque são mortes, sutis mas são!
Pensando no aspecto das perdas cotidianas, a morte deveria ser muito melhor elaborada pelas pessoas porque ela é comum, impondo sua presença com freqüência no dia-a-dia, nós seres humanos deveríamos estar muito melhores preparados para a morte. Lembro-me que no funeral que vivenciei há muito pouco tempo atrás, as pessoas vinham me abraçar solidárias e diziam que sabiam o que eu estava sentindo porque haviam passado pela mesma dor; hoje penso que com certeza, todos nós, mesmo que não tenhamos perdido algum ente querido, já vivenciamos a morte através dessas pequenas perdas, uns com menor ou maior intensidade, mas a essência da mortem, todos nós já vivemos.
Entendo que a dificuldade em lidar com a morte seja exatamente pela ausência que ela traz; quando se fala em morte, estamos dizendo que algo deixou de existir, o que nos faz tomar contato com a angústia e o vazio do nada, mas devemos lembrar que somos seres angustiados por natureza e que, independente da morte, sempre iremos nos angustiar com a vida.
Ainda sobre o congresso que participei, a última palestra que assisti foi uma mesa composta pela jovem repórter Thais Itaqui, Glória Menezes, dentre outros. A participação da Thais girou em torno de comentar sobre um programa que ela participou na Rede Globo e que abordava o tema: cuidados paliativos, (pauta proposta por ela que assim como eu, estava no processo de luto quando trabalhou nessa reportagem). A repórter salientou bastante a dificuldade de o programa ir “ao ar” depois de pronto em função do tema, ela comentou que o responsável pelo programa disse: “mas nós vamos colocar um programa no ar sobre morte, no final de ano?? As pessoas estão em ritmo de festa! É natal... isso vai prejudicar a audiência” (o programa Profissão Repórter foi apresentado dia 15/12/2009). E para sua surpresa, a audiência do programa subiu em dois pontos. A jovem repórter comentou que, após a exibição do programa recebeu inúmeros emails e dentre eles, uma mulher lhe escreveu dizendo que enquanto assistia ao programa ao lado do marido, sentiu muita vontade de dizer que o amava e ele era muito importante na vida dela.
Gostaria de comentar sobre a essa última fala da repórter. A mulher que assistia ao programa, ao deparar-se com a possibilidade da morte através dos casos apresentados no programa, sentiu vontade de cuidar da vida, de falar dos sentimentos, do amor, e do quanto somos compostos pelos conteúdos da vida: união, amor e também morte. Nós não conseguimos pensar a morte através da vida, ou seja, já que vou morrer (e essa é a única certeza que temos, como diz o dito popular) irei fazer com que minha existência seja o mais autêntica possível – cuidando dos projetos de vida, dos anseios, sentimentos, pessoas, enfim... cuidando da vida porque sabemos da morte.
Para finalizar, penso que à medida que pensamos sobre nossa própria morte, essa fica mais fácil de ser digerida emocionalmente, pois quando imaginamos que um dia deixaremos de existir, justo nosso corpo, instrumento da nossa vivência no mundo, toda e qualquer morte fica mais aceitável de ser entendida, inclusive aquela dos nossos entes queridos.
Espero que essa breve reflexão tenha despertado nos leitores a necessidade de rever suas posturas frente à finitude, seja das perdas rotineiras do cotidiano, seja das perdas dos nossos entes queridos, e que na dificuldade em entender, sentir e conviver com as perdas procurem um psicólogo que possa trabalhar todos os sentimentos pertinentes à essa questão tão sutil, difícil e existencial.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quando procurar um psicólogo?

...quando algo está “pesado” demais para suportar! É isso mesmo: carregamos “fardos”, muitas vezes, pesados demais para nossa estrutura emocional. Seria o mesmo que carregar um objeto real que pesa além das nossas forças. Pois é assim que o psicólogo irá interferir: auxiliando a “carregar” (e entender) o peso das nossas dores, problemas, angústias existenciais, situações que vivenciamos, enfim... o auxílio psicoterapêutico tem a função de fazer com que possamos compreender tudo o que vivenciamos.
A função do psicólogo em nossas vidas passa a ser como a de um amigo muito íntimo, pois ele quem irá ouvir (e auxiliar na compreensão) de todos os nossos segredos, porém, com um detalhe muito importante: não cabe ao psicólogo julgar nossas atitudes, nossos sentimentos! À ele cabe ouvir de modo neutro, mas com toda empatia possível.
Eu costumo dizer que uma das características principais de quem escolha a Psicologia como profissão é condição de “guardar segredos”... Segundo o Código de Ética, em seu artigo 21 “O sigilo protegerá o atendimento em tudo aquilo que o psicólogo ouve, vê ou de que tem conhecimento como decorrência da atividade profissional” (*) o psicólogo precisa ser alguém comprometido com o sigilo profissional, ou seja, tudo aquilo que for ouvido em setting terapêutico (nome que atribuímos a sessão de terapia) deve ser mantido em segredo.
Psicólogo não dá conselhos! Isso mesmo: c-a-t-e-g-o-r-i-c-a-m-e-n-t-e! não se aconselha ninguém à fazer “isso” ou “aquilo”, pois quando palpitamos sobre a vida do outro, ficamos responsáveis pelo o que irá acontecer, e isso não é possível: arcar com as conseqüências da vida de outra pessoa, pois como diz a letra de Caetano: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”!
Por fim, cabe ao psicólogo auxiliar na caminhada existencial daquele que busca sua ajuda, entendendo que somos profissionais diferenciados de todos os outros por trabalharmos com os sentimentos e a vida de outras pessoas. Dessa forma, o psicólogo deve, antes de tudo, ser um profissional que compreenda o homem em todas as suas dimensões: bio-psico-social-espiritual, acolhendo-o sem críticas e entendendo sobre sua subjetividade.
Portanto, que todos nós possamos contar com a ajuda desse profissional imprescindível para a saúde mental! Inclusive nós psicólogos.

(*) http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/131/frames/fr_questoes_eticas.aspx